Apesar do esforço
governamental para dar ares positivos ao primeiro ano do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva no poder, os índices relativos a 2003 levantados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística IBGE indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) tudo
o que o País produz durante o ano encolheu 0,2%. Foi o pior desempenho desde 1992,
quando houve diminuição de 0,5%. O PIB per capita
apresentou uma queda de 1,5% no período, pois a estimativa de crescimento populacional do
IBGE foi de 1,3% para o mesmo período. Nos últimos 10 anos (1994 a 2003), o crescimento
médio real anual do PIB foi de 2,4%, enquanto o crescimento médio real anual do PIB per
capita, para o mesmo período, foi de 1%. Isto tudo significa que o Brasil e os
brasileiros se empobreceram bastante no ano passado.
O consumo das famílias caiu 3,3%, enquanto o consumo do governo cresceu 0,6%. A
formação bruta de capital fixo, indicador que representa a capacidade de aumentar a
produção de bens no País, recuou 6,6%.
"Erro de Pessoa"
Em meio à repercussão dessa realidade negativa, o
presidente Lula voltou a dizer que não pode errar. Só que alongou um pouco a fala, dando
margem a protestos que foram sintetizados pela jornalista Dora Kramer [ dkramer@estadao.com.br ] em sua coluna publicada em O ESTADO DE S. PAULO no dia 10 deste
mês. Escreveu ela:
"Erro de pessoa - O presidente Luiz
Inácio da Silva reafirmou que não tem o 'direito de errar', mas desta vez estendeu a
aplicação da exigência. Segundo ele, se errar 'o fracasso será da classe
trabalhadora'.
"Não, será resultado de uma junção de
administradores ineptos com políticos inábeis.
"A 'classe trabalhadora' votou, fez a sua parte.
Mas daí a ser convidada à socialização do infortúnio, convenhamos, há uma distância
boa."
Agropecuária impede queda maior
Graças ao desempenho da agropecuária, a retração
da economia brasileira não foi maior em 2003. Segundo o IBGE, o setor expandiu-se 5%,
enquanto a indústria encolhia 1% e o setor de serviços, 0,1% Dentre os subsetores da
indústria, construção civil foi o único que apresentou queda (-8,6%). Os demais
subsetores extrativa mineral, serviços industriais de utilidade pública e
transformação apresentaram crescimentos de 2,8%, 1,9% e 0,7%, respectivamente.
Já no setor de serviços, foram registradas quedas no comércio (-2,6%), nos transportes
(-0,8%) e em outros serviços (-0,5%).
Os indicadores do último trimestre de 2003 sinalizam, no entanto, um início de retomada
da economia. O PIB no período apresentou queda de 0,1% em relação ao mesmo trimestre de
2002 e crescimento de 1,5% em relação ao terceiro trimestre. A Formação Bruta de
Capital Fixo, indicador de aumento da capacidade de produção da economia do País, teve
crescimento de 4%, após um primeiro semestre com quedas superiores à 4,5%.
O consumo das famílias cresceu 1,6% no quarto trimestre em relação ao terceiro e o
consumo do governo subiu 0,1%. As exportações de bens e serviços aumentaram 5,5% e as
importações, 8,3%.
Estatais derrubam superávit primário
O preocupante desempenho da economia sob a batuta do
Partido dos Trabalhadores (PT) também está refletido na situação do superávit
primário do setor público. Trata-se de dinheiro destinado a saldar compromissos da
dívida pública, que, em janeiro, somou R$ 6,95 bilhões. Houve queda de 17,9% em
comparação com o mesmo mês do ano passado, quando o saldo positivo foi de R$ 8,463
bilhões. Segundo o Banco Central, o resultado piorou devido ao déficit das estatais, que
estão sob a administração do PT e partidos aliados. Subiu de R$ 597 bilhões em janeiro
de 2003 para R$ 1,989 bilhão em janeiro deste ano.
A conta de juros também sofreu uma queda, saindo de R$ 17,632 bilhões em janeiro do ano
passado para R$ 10,960 bilhões em janeiro de 2004. Com isso, a dívida líquida do setor |
público subiu de R$ 913,145
bilhões, o equivalente a 58,1% do Produto Interno Bruto, em dezembro do ano passado, para
R$ 921,854 bilhões em janeiro deste ano, ou 58,2% do PIB. A meta de superávit primário
faz parte do acordo com o Fundo Monetário Internacional. São Paulo com outro recorde de desemprego
A taxa de desemprego na Região Metropolitana de São
Paulo permaneceu inalterada em janeiro, em 19,1% da População Economicamente Ativa
(PEA). No entanto, o índice é o maior para um mês de janeiro desde o início da
pesquisa, em 1985. Em janeiro do ano passado o desemprego já havia atingido recorde na
Região Metropolitana, ficando em 18,6% da PEA.
Segundo levantamento divulgado pela Fundação Seade e pelo Dieese, 127 mil pessoas
saíram do mercado de trabalho em janeiro e 103 mil postos de trabalho foram eliminados. O
total de pessoas sem emprego chegou a 1,868 milhão, 24 mil a menos do que em dezembro.
A redução de vagas é considerada comum nos meses de janeiro, pois os trabalhadores
temporários admitidos no fim do ano são dispensados. O nível de desemprego só não
costuma subir exageradamente porque muitas pessoas deixam de procurar trabalho neste
período em que as vagas são limitadas.
- A manutenção do desemprego é sazonal e já esperada. Neste ano, o recorde na taxa de
janeiro foi reflexo do segundo semestre do ano passado, que apresentou baixo crescimento
da atividade econômica - afirmou Paula Montagner, gerente de análises da Fundação
Seade.
Houve redução de vagas em todos os setores da economia. A indústria eliminou 21 mil
postos, principalmente de trabalho autônomo e de assalariados sem carteira assinada.
Outras 25 mil vagas foram eliminadas pelo comércio e 15 mil pelo setor de serviços. O
emprego doméstico e a construção civil também demitiram, com redução de 42 mil
postos.
Na indústria, um sinalizador positivo foi a alta de 2,7% no setor metal-mecânico. Paula
explicou que esse setor costuma criar vagas melhores e pagar salários mais altos para os
trabalhadores. A preocupação é que alguns postos foram criados por empresas
exportadores, o que significa que o mercado interno ainda continua sem dar sinais de
recuperação.
O tempo médio de procura por trabalho na região metropolitana aumentou em uma semana em
janeiro, na comparação com dezembro, atingindo 55 semanas, segundo a pesquisa. A jornada
de trabalho de quem está empregado caiu de 45 horas em dezembro para 44 horas semanais em
janeiro. A proporção dos que trabalharam mais do que 44 horas semanais caiu de 48,9%
para 46,7%. No comércio, houve queda de 65,4% para 62,5%. Na indústria, de 49,3% para
47,4% e nos serviços de 43,8% para 41%.
Paula afirmou que a taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo deve
continuar subindo nos próximos meses. Segundo a gerente de análises da Fundação Seade,
não há previsão de criação de novos postos de trabalho e, como ocorre todos os anos,
as pessoas que deixam de procurar emprego no início do ano, principalmente mulheres e
jovens, retornam ao mercado de trabalho a partir de março e abril.
Para a economista, apenas o crescimento contínuo da atividade econômica poderá elevar o
nível de emprego no país. Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, a
queda do juro ajuda na recuperação da atividade e na retomada da geração de empregos,
mas é preciso que a economia cresça de forma contínua para permitir o aumento dos
investimentos em produção. A exportação, segundo ele, pode ajudar a aumentar o
emprego, mas não é suficiente. Na avaliação dele, é preciso que o juro caia para
reduzir a atratividade das aplicações financeiras, levando as empresas a investirem em
produção.
Balança tem superávit de US$ 3,1 bi
Todavia, à margem de tanta informação angustiante,
surgiu uma boa notícia: a balança comercial brasileira acumula superávit de US$ 3,185
bilhões em 2004, com exportações de US$ 10,652 bilhões e importações de US$ 7,467
bilhões. O resultado supera em US$ 2 bilhões o apurado no mesmo período do ano passado.
Após o carnaval, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio divulgou os
dados da balança comercial brasileira referentes à terceira semana de fevereiro (dos
dias 16 ao 22). No período, a balança registrou superávit de US$ 724 milhões, com
exportações de US$ 1,813 bilhão e importações de US$ 1,089 bilhão.
No acumulado de fevereiro, o resultado positivo superou os US$ 1,5 bilhão. No período, a
média diária das exportações somou US$ 362,6 milhões, enquanto as importações
tiveram média de US$ 217,8 milhões. |